Antes de 2015, poucos levavam o Golden State Warriors a sério. A franquia de Oakland, que nos anos 2000 vivia entre reconstruções e promessas, era vista mais como coadjuvante do que protagonista. A base jovem até mostrava talento, mas faltava algo que unisse tudo — identidade, direção, confiança.
Foi quando Stephen Curry, um armador franzino e de tornozelos duvidosos, começou a mudar o destino da equipe. Draftado em 2009, Curry não chegou como estrela, mas como uma aposta. Ao seu lado, outro garoto subestimado: Klay Thompson, escolhido em 2011. E um ano depois, um segundo-round chamado Draymond Green. Três peças, três perfis improváveis.
O que ninguém sabia é que ali nascia o esqueleto de uma dinastia.
A chegada de Steve Kerr ao Golden State Warriors
Ex-jogador multicampeão com Michael Jordan e Gregg Popovich, Steve Kerr assumiu o Golden State Warriors em 2014 e trouxe algo que a franquia nunca teve: uma filosofia.
Ele olhou para Curry e Thompson e viu mais do que bons arremessadores — viu o futuro do basquete. O sistema de movimentação constante, passes rápidos e espaçamento perfeito virou uma revolução silenciosa.
Enquanto a NBA ainda se apoiava em pivôs dominantes e ataques baseados em isolations, os Warriors transformaram o jogo em um balé de três pontos e defesa coletiva. O “small ball” de Kerr não era apenas tático — era cultural.
O primeiro título da dinastia do Golden State Warriors e os ‘Splash Brothers’
Sob o comando de Steve Kerr, em sua primeira temporada como técnico, a franquia encontrou algo novo: harmonia. Kerr libertou Stephen Curry e Klay Thompson para jogarem com leveza, deu confiança a Draymond Green como o motor da defesa e criou um sistema de passes e movimentações que mudaria o basquete.
Os “Splash Brothers” incendiaram a liga com arremessos impossíveis, enquanto a defesa, coordenada por Green e Andre Iguodala, sufocava adversários.
Na temporada regular, foram 67 vitórias e apenas 15 derrotas. E nos playoffs, o jogo fluía como sinfonia. Na final, o desafio era imenso: LeBron James e o Cleveland Cavaliers.
Mesmo com atuações históricas de LeBron, o coletivo do Warriors prevaleceu. Iguodala, vindo do banco, assumiu a marcação sobre o astro e foi eleito o MVP das Finais.
Era o início da dinastia. O título de 2015 não foi apenas uma conquista, foi o nascimento de um novo modo de jogar basquete.
LeBron James, o maior rival do Golden State Warriors
A temporada seguinte começou com brilho e terminou com cicatrizes.
O Warriors dominou a NBA com uma campanha histórica: 73 vitórias e apenas 9 derrotas, o melhor aproveitamento da história da liga. Curry, em estado de graça, foi eleito MVP unânime, feito inédito.
Mas a perfeição se desfez nas Finais. Após abrir 3 a 1 sobre os Cavaliers, Golden State viu LeBron James e Kyrie Irving comandarem uma das maiores viradas da história.
Curry errou, Draymond foi suspenso, e o time ruiu no momento decisivo. O recorde de vitórias ficou marcado pela falta do título. Foi o golpe que, paradoxalmente, consolidou a mentalidade da dinastia: não bastava jogar bonito — era preciso ser implacável contra LeBron e os Cavs.
O fracasso seria o combustível da glória que viria a seguir.
A chegada de Kevin Durant ao Golden State Warriors
O verão de 2016 mudou tudo. Poucas semanas após a derrota, o Golden State Warriors anunciou a contratação de Kevin Durant, o MVP de 2014.
A NBA parou. O time que já era uma potência agora parecia imbatível. Havia quem chamasse de “trapaça”, mas dentro de quadra o que se via era arte em movimento.
Curry, Durant, Thompson e Green formaram um quarteto quase impossível de conter. O ataque era o mais eficiente da história e a defesa, coordenada e versátil.
Nos playoffs de 2017, o Warriors atropelou: 16 vitórias e apenas uma derrota. Uma campanha quase perfeita.
Nas Finais, o reencontro com LeBron teve um novo desfecho. Durant foi avassalador — MVP das Finais — e o Golden State conquistou o segundo título em três anos.
A dinastia não só estava de pé: agora tinha um novo rosto ao lado de Curry.
Golden State Warriors domina a NBA outra vez
Se 2017 foi a consolidação, 2018 foi a confirmação.
O Golden State já não era novidade — era a referência. Os adversários estudavam cada jogada, cada rotação, cada espaço. Mesmo assim, ninguém conseguia pará-los.
A temporada teve altos e baixos, especialmente por cansaço e pequenas lesões. Mas quando os playoffs começaram, o modo dinastia voltou.
Na final do Oeste, o Houston Rockets de James Harden levou a série a sete jogos e quase destronou os campeões. Mas o talento coletivo falou mais alto.
Na decisão, mais uma vez contra o Cleveland Cavaliers, não houve espaço para dúvidas: varrida por 4 a 0 e novo título. Durant repetiu o prêmio de MVP das Finais.
Era o auge da dinastia. O Warriors era o centro do universo da NBA, o time que definia o padrão de excelência e inspirava uma geração inteira de jogadores.
A saída polêmica de Kevin Durant era o fim da dinastia?
Na temporada em 2018/19, o brilho começou a rachar. Lesões, desgaste interno e o peso da convivência entre tantas estrelas abalaram o equilíbrio que Steve Kerr sempre tentou proteger.
O ápice da tensão veio em novembro de 2018, num jogo contra o Los Angeles Clippers. Draymond Green e Durant discutiram feio, uma troca de farpas que ecoou muito além da quadra.
A briga expôs algo que já se murmurava nos bastidores: Durant nunca se sentiu totalmente parte daquela cultura criada por Curry, Klay e Draymond. Ele era o astro contratado, o reforço que levou o time à perfeição, mas não o símbolo emocional da franquia. O Warriors era o time de Steph, e isso nunca mudou — nem nos dias em que Durant parecia o melhor jogador do planeta.
As Finais de 2019 foram o ponto de ruptura. Durant rompeu o tendão de Aquiles, Klay Thompson lesionou o ligamento cruzado, e o Golden State perdeu para o Toronto Raptors.
Durant deixou a equipe. Curry e Thompson passaram temporadas inteiras lidando com lesões. Muitos diziam que a dinastia havia acabado.
O renascimento da dinastia do Golden State Warriors
Parecia o fim. Depois da saída de Kevin Durant, das lesões de Klay Thompson e da transição natural de uma geração que já havia vencido tudo, poucos apostariam que o Golden State Warriors voltaria ao topo. Mas, como toda dinastia que se recusa a morrer, o renascimento viria — e viria com força.
Foram anos de reconstrução silenciosa. Em 2020, o time teve a pior campanha da liga. Steph Curry lesionado, Klay fora por mais uma temporada, e Draymond tentando manter viva a cultura vencedora. Aquele não era o Warriors que o mundo aprendeu a admirar, mas sim uma versão ferida tentando reencontrar seu propósito.
Em 2021, com Curry de volta em forma de MVP, algo começou a mudar. O sorriso, os arremessos impossíveis, o brilho nos olhos — tudo parecia um prelúdio do que viria a seguir. E quando Klay retornou em janeiro de 2022, depois de 941 dias sem jogar, a energia dentro do Chase Center mudou completamente. Era como se o coração da dinastia tivesse voltado a bater.
Os playoffs daquele ano foram uma lembrança viva do que o Warriors representa. Contra Memphis, Dallas e Boston, o time mostrou que ainda dominava o jogo moderno como ninguém. E Steph, tantas vezes questionado por não ter um prêmio de MVP das Finais, finalmente teve seu momento.
A série contra o Boston Celtics foi o auge de sua grandeza. Em especial, o Jogo 4, no TD Garden, quando Curry fez 43 pontos e comandou a virada que mudaria o destino da temporada. Aquela atuação foi mais que uma vitória — foi uma declaração: a dinastia estava viva.
Quando o cronômetro zerou no Jogo 6 e o Warriors levantou o troféu Larry O’Brien pela quarta vez em oito anos, o time completou o ciclo mais improvável da NBA moderna. Do auge absoluto à reconstrução, e da reconstrução ao renascimento.
O título de 2022 não foi apenas mais uma conquista. Foi a confirmação de que o Golden State Warriors não foi um fenômeno passageiro, e sim uma das maiores dinastias da história do esporte.



